Algumas das lições mais importantes da minha vida tiveram minha mãe como professora. Recordo que ela sempre me chamava atenção pela maneira que a roupa deveria ser pendurada no varal: as camisetas não deveriam ser jogadas sobre a corda, pois isso faria com que um lado secasse antes que o outro, assim como as calças jeans, que deveriam ser penduradas pelo “coz” da cintura e, após algum tempo, viradas e penduradas pelas pernas. Meias deveriam ser penduradas ao lado de seus pares e jamais pelo elástico, e as roupas íntimas deveriam receber sol o suficiente para evitar o crescimento de fungos.
As roupas secariam de qualquer maneira que fossem penduradas mas, havia um detalhe importante nas orientações de minha mãe: segundo ela, as pessoas que passassem na rua e olhassem o varal saberiam que tipo de dona de casa vivia ali, se desleixada ou caprichosa. Minha mãe sempre foi muito caprichosa com tudo o que fez, desde uma roupa lavada até o alimento levado à mesa. Hoje entendo que, em sua simplicidade, me ensinou da importância da presença, de ritualizar pequenas ações do dia a dia, de dispensar atenção a tudo o que se faça, mesmo as tarefas mais simples e corriqueiras.
“As roupas penduradas no varal” me ensinaram muito mais do que apenas a maneira correta de estender a roupa. A cada peça colocada no varal, minha mãe me transmitiu um conjunto de valores que orientam minha vida e cultivaram, em mim, virtudes fundamentais para me construir como humana.
A roupa pendurada com cuidado, alinhada e com atenção aos detalhes, era um reflexo da ordem que minha mãe buscava em todos os aspectos de sua vida. Era uma demonstração de respeito por si mesma, por sua casa e por aqueles que a visitavam. Ao cuidar de cada peça, ela me mostrava a importância de valorizar as pequenas coisas, de encontrar beleza nos detalhes e de realizar cada tarefa com o máximo de cuidado.
Essa atenção aos detalhes, aprendida no varal, me acompanha até hoje. Na escola, me esforcei para realizar todas as tarefas com capricho, mesmo as mais simples. No trabalho, busco sempre entregar o melhor de mim em tudo o que faço. E em meus relacionamentos, procuro cultivar a atenção e o cuidado com as pessoas que amo.
A lição de minha mãe me mostrou que a vida é feita de pequenos gestos e que cada um deles tem o poder de transformar o nosso dia a dia e o mundo ao nosso redor. Ao cuidar das roupas no varal, eu estava aprendendo a cuidar de mim mesma, da minha casa e (até!) do meu planeta.
Hoje, em um tempo em que roupas penduradas nos varais são cada vez mais raras, se tenho a sorte de ver um varal cheio de roupas coloridas, me transporto para as manhãs ensolaradas, atrás de casa, em frente a porta do “rancho”, que era como chamávamos o lugar onde ficava o tanque. E sei que, independentemente das tarefas que esteja realizando, sempre posso encontrar um momento para praticar a atenção plena e a busca pela perfeição, mesmo nas coisas mais simples.
Tenho apenas um varal de chão, desses que foram feitos para caber em apartamentos, que fica na sacada e, apenas nas primeiras horas do dia, é presenteado com estes raios milagrosos. Por muito tempo, eu não gostei de pendurar roupas… Achava uma perda de tempo, um desperdício desse bem tão precioso, que poderia ser aproveitado com inúmeras outras coisas.
E, talvez, porque seja difícil acharmos satisfação nas coisas rotineiras e repetitivas, nos colocamos a andar pela vida buscando novidades e aventuras, algo que nos tire do lugar em que estamos, que nos resgate da vida insossa e sem graça e, sem nos darmos conta, assumimos o papel de turista em nossa própria existência. Sinto falta de um varal na rua, onde eu e as roupas possamos receber um pouco da energia quente e luminosa do sol, mas faço o melhor que posso com meu varal de chão. Me parece que tenho, finalmente, entendido a lição.